“ Alguns têm medo das águas, outros tem medo das terras… mas não importa, o terror se encontra em ambos os lugares. E mais, em nós mesmos, agindo por trás de nossos olhos. ”
O homem olha para o seu reflexo nas águas do calmo e distante mar Slåvatten.
“ Por que estou aqui, por que eu fugi? Eu não queria… ”
Seus olhos parecem cansados demais, o tingimento negro em volta deles proporciona a profundidade de um cadáver, tão morto quanto perdido. O homem leva a sua mão em direção a água apreensivo com sua aparência, não se reconhece, o indicador tremula junto aos lábios e dentes que sentem o beijo do vento.
“ O que foi que eu me tornei, quem eu era? Não sou um covarde… ”
Os cabelos não estão como antes, adornos dourados e trançados agora são manchados, uma espécie de grisalho amaldiçoado que embaraça os fios os faz penderem para os lados feito o escalpo de um lunático. Ele bagunça aquele espelho límpido e líquido de tom azul-esverdeado com a mão esquerda, de forma tão desejosa quanto como afunda sua mão direita por debaixo dos cabelos pela nuca.
É aí que se revelam nebulosas criaturas, seus contornos serpenteiam, uns sobre os outros, transformam paralisia em fluxo, líquido em viscoso, calmaria em susto, ritmo em arritmia. Com seus corpos exibindo escamas, olhos e presas vibrantes com o cheiro de vida arriscando-se ali, as serpentes, entranhas de Kvelrödd sorriem devorantes. O homem se assusta, assimilando-as com as mechas de seu cabelo, caindo para trás e se apoiando nas madeiras do deck de seu barco, um karvi pela metade, suas bordas quebradas desenham dentições de grande tamanho.
“ Olhe para elas, criaturas traiçoeiras, heranças da filha do poderoso Vígjár, loucas para me arrebatar. Maldição! Eu sou o filho de meu pai… ”